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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

“QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO”



A TURMA DO BAIRRO SÃO JOÃO



Aquele bairro onde me criei e pude conviver com tantos amigos e, por sinal, amigos que hoje são dependentes das drogas, principalmente do mísero cigarro e da bebida alcoólatra. Uma história que de fato mudou muito de minha infância para a minha adolescência. Mas essa é a turma do bairro São João! E um garoto chamado Neto, o protagonista da história, quando pequeno gostara de ir com os seus amigos na Lagoa de União, assim chamada, para caçarem passarinhos. Um verdadeiro crime ambiental que ninguém poderia cometer. Os pássaros eram alvo de tiros de pedras e a intenção de todos era de matar e levar para casa o bicho para fazer um frito e comer com farofa. Cada um com sua *baladeira, todos preparados para uma aventura em meio à mata cheia de cipós batendo nas pernas e deixando marcas.

___ Vamos acampar aqui mesmo – disse Neto.
___ Sim, claro. Aqui é um ótimo lugar - disse Fernando.
___ Então vamos logo armar nossas barracas para procurarmos de vez estes pássaros, para que amanhã possamos chegar em nossas casas com vários pássaros para encher de orgulho nossos pais – concluiu José.

Infelizmente, muitos pássaros foram alvos destes pequenos garotos. Noutro dia, todos foram para suas casas felizes, porém, a mãe natureza não deve ter gostado nada disso. Mas algo estava reservado para um deles. E esse dia não demorou muito pra chegar, e tudo aconteceu realmente na Rua 13 de Maio quando jogavam bola e, o jovem menino chamado Neto levou uma topada tão grande que arrancou-lhe a unha do dedão do pé. Isso sim é que é castigo! Por isso as crianças e todos devem ter cuidado com o meio ambiente, com as árvores, os animais, os rios...
O tempo foi se passando e o Neto foi crescendo juntamente com seus amigos, inclusive, por incrível que pareça, foi o único que se escapou do mundo da bandidagem. Neto resolveu então se afastar de seus amigos. Muitos deles viraram bandidos perigosos e até alguns já cometeram homicídios. Meu nome é Rodrigo e fui e continuo sendo amigo do Neto. Sou companheiro dele dos tempos de bumba-meu-boi, tempos inesquecíveis. É uma coisa fantástica e que eu não sei falar emocionadamente porque deixo claro que ele foi e é um dos meus melhores amigos que já tive. Nos tempos de bois, ele se garantia com seus outros amigos a fazer a armação do boi e, ainda pulava as quintas alheias para pegar alguma caveira de gado jogada pelos pastos para ajudar na armação. Saímos desfilando não só pelas ruas do bairro como, também, por outros cantos da cidade. E sempre dávamos de cara com outros bois de outros bairros e sempre havia aquela briga, pois a rivalidade também persuadia entre o bairro São João e o Bairro São Pedro. Dois bairros com nomes de santos e ainda mais santos comemorados na mesma folia, ou seja, em festas juninas nos meses de Junho.
E era exatamente neste mês que a cidade ficava empestada de bois já que era uma tradição de peso na cidade. Hoje em dia isso é completamente diferente, ninguém dar mais valor a essa tradição, a essa cultura. Um boi do Bairro São João que fez grande sucesso foi o “Boi Estrela do Mar” e eu tinha nessa época apenas doze anos. Nós também criávamos nossas próprias músicas. Cada boi criava seu estilo próprio de música. A gente tinha a música de abertura e a música pro final da apresentação. Passávamos sempre na casa dos mais ricos e cobrávamos por um minuto de apresentação R$ 5,00 reais. Eu tocava o tamborim e o Neto tocava as Matracas. O mais engraçado é que ele já machucou muitas vezes o dedo com as matracas. Antes de sairmos para fazer alguma apresentação sempre fazíamos uma fogueira para esquentar os instrumentos para nos dar sorte. E acredite amigo, dava-nos muita sorte mesmo, pois a renda no final de todas as apresentações era muito boa e isso deixava toda a criançada alegre. Pena que nem todos seguiram o caminho correto que Deus nos oferece.
Inclusive, tínhamos uma música própria quando confrontávamos com outros bois ou mesmo uma simples apresentação que era uma honra à tradição do bairro São João. O trecho da música era a seguinte:

“É a turma do bairro São João,
É a turma que eu boto fé (bis).
E é de qualquer que eu mandar,
Ou me obedece ou eu racho, eu racho, eu racho, eu rachei...”

Assim é toda a trajetória de um bairro que vivenciei toda a minha infância, e, infelizmente, muitos dos meus amigos não se escaparam, sendo que uns morreram ao se envolver com gangues de outros bairros. Mas pro final feliz, eu e o Neto nos escapamos do mundo do crime, das drogas e de tudo que é de ruim neste mundo. No entanto, essa é a turma do bairro São João.


[Antonio Félix]

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